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Ascânio Seleme e Germano Oliveira

SÃO PAULO. Silêncio neste momento às margens do Senna, junto à Maison de la Radio, onde os termômetros marcam 8 graus. Desde a manhã de ontem, os termômetros da Maison de la Radio congelaram, pararam. Ficaram tristes com o falecimento do jornalista Elpídio Reali Júnior, de 70 anos, ou simplesmente Reali Júnior. Seu coração parou de bater hoje por volta das 9h em São Paulo, que registrava 16 graus. Em Paris, já eram 14h e fazia 22 graus. As duas cidades choraram a perda de um dos maiores jornalistas brasileiros.

Reali se imortalizou com seus despachos diários feitos de Paris para a Rádio Jovem Pan, que nos últimos 38 anos, começavam com o bordão: "Neste momento, às margens do Senna (Rio Senna), junto à Maison de la Radio, os termômetros marcam..." E dava a temperatura em Paris, para logo em seguida relatar as principais notícias da Europa. No dia seguinte, as notícias de Reali também eram estampadas nas páginas do jornal "O Estado de S. Paulo", do qual era correspondente em Paris. O maior de todos dos tempos.

Reali começou a carreira de jornalista aos 16 anos (54 anos de profissão) na Rádio Jovem Pan de São Paulo. Sem nenhuma experiência, e ainda menino procurou a emissora porque precisava trabalhar, aconselhado pelo radialista Casimiro Pinto. Fez um teste como locutor e passou. Depois virou repórter. O radialista, aliás, tem dois grandes méritos na vida: iniciou Reali Jr. na profissão e também "inventou" o nacionalmente famoso sanduíche "bauru". Casimiro era de Bauru, cidade do interior de São Paulo onde Reali Jr morou na sua infância.

Logo em seguida, em 1957, Reali se especializou como repórter de esportes. Ganhou de cara um apelido, "Repórter canarinho". Tinha que ser no diminutivo porque ele era apenas um menino. Um menino louro, por isso o passarinho amarelo. O locutor esportivo Sílvio Luiz o chamava de "Canário", afinal Reali Jr já não era mais aquele menino do final da década de 50.

O menino se transformou em um dos maiores repórteres brasileiros, como lembra o também jornalista Ricardo Kotscho, que prestou uma homenagem ao amigo em seu blog "No Balaio de Kotscho" em sua edição de ontem, escrevendo um artigo: "Reali Jr, o repórter que virou doutor".

Kotscho se referia à homenagem que Reali recebeu há dois anos na FMU da Liberdade, em São Paulo, com o recebimento do título de "Doutor Honoris Causa" da universidade, concedido quando o jornalista já estava com câncer e bastante debilitado.

Em mais de 50 anos de carreira premiada e das mais corretas, Reali nunca deixou a Jovem Pan, mas trabalhou também para outros veículos de comunicação no país, como a TV Bandeirantes, O GLOBO, TV Globo, TV Record e ESPN, além do "Estadão", do qual foi correspondente consagrado em Paris desde a década de 70.

Seu apartamento em Paris, na rua Ranelag, era uma espécie de QG para outros jornalistas brasileiros que iam à Europa e durante a ditadura na década de 70 e 80 se transformou num ponto de apoio para os brasileiros exilados pelo regime militar. Reali e Amelinha, sua mulher, sempre confortavam os brasileiros desterrados.

E foi com um pé sempre no Brasil que o jornalista se tornou uma referência nacional em Paris. Por sua casa, além de jornalistas que fugiam da ditadura no Brasil, passaram presidentes, embaixadores, governadores e parlamentares brasileiros. Lá se reuniam com freqüência inúmeros exilados brasileiros. Foi nessa época que o jornalista consolidou amizades e estabeleceu pontes novas com Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Miguel Arraes, Brizola, Lula, João Goulart, Giocondo Dias e outros muitos personagens da política brasileira.

Como correspondente da Jovem Pan e do "Estadão", Reali cobriu de Paris os fatos mais importantes nas últimas três décadas, construíndo uma carreira profissional de grande prestígio internacional. Reali participou das coberturas jornalísticas mais importantes das últimas décadas na Europa, como a morte da Lady Diana, revolução dos Cravos, em 1973 em Portugal, morte do general Franco na Espanha, queda do avião da Varig em Paris em 1973, guerra do Irã-Iraque, queda do muro de Berlim na década de 80, entre outras.

Cobriu guerras, golpes e revoluções. Entrevistou reis e presidentes, inclusive os três últimos da França: Valéry Giscard d'Estaing, François Mitterrand e Jacques Chirac.

A história do correspondente Reali Junior é uma história de amor à vida e ao jornalismo. Em "Às margens do Sena", livro com 320 páginas lançado em 2007, Gianni Carta conta a trajetória deste que é um dos maiores mestres do jornalismo brasileiro e o mais importante correspondente do Brasil no exterior de todos os tempos. Em 2006, Reali concedeu a Carta mais de cem horas de depoimento. Durante um ano, os dois trataram de esmiuçar a memória e os arquivos do jornalista para trazer à público o relato de uma trajetória extraordinária.

Reali nunca dissociou jornalismo da política. Foi para Paris porque começou a se sentir isolado quando seus amigos passaram a ser presos pela ditadura militar iniciada em 1964. Certa vez, Reali Jr. deu um soco num colega dedo-duro que havia feito para os militares uma lista de "jornalistas anti-revolucionários".

Em 1970, dois anos antes de se mudar para Paris, Reali Jr. ganhou o Prêmio Governador do Estado como melhor repórter de rádio daquele ano. Ao agradecer o prêmio, no teatro Record lotado, ele disse: "Ofereço este prêmio aos colegas presos que não puderam concorrer comigo". Reali Jr. deixou o Brasil como correspondente da Jovem Pan num exílio voluntário.

Quando soube que estava com câncer no fígado, há três anos, Reali resolveu se aposentar e voltar a São Paulo para se tratar. Chegou a fazer transplante de fígado no Hospital Alemão Osvaldo Cruz, onde passou a se tratar nos últimos anos. Mas ele não resistiu.

Reali Júnior acabou falecendo hoje cedo em sua casa, em São Paulo, após parada cardiorrespiratória em função do câncer. Seu corpo começou a ser velado hoje no início da noite na Funeral Home, uma empresa especializada na rua São Carlos do Pinhal, perto da Avenida Paulista, onde fica a sede da Rádio Jovem Pan. Ele deverá ser cremado neste domingo, em horário a ser definido, no Cemitério de Vila Alpina, pois as filhas que moram na França (Luciana, Adriana, Cristina e Mariana) estão a caminho do Brasil, para o encontro com a mãe Amélia no velório do pai. Reali conheceu Amélia quando tinha 14 anos. Amélia tinha 13. Casaram em janeiro de 1961 e sempre viveram juntos. Quando se mudaram para Paris em 1972 já tinham as quatro filhas, que resolveram ficar morando na França depois que os pais retornaram ao Brasil.

Fonte: oglobo

Postador Macedo

Aqui você coloca uma descrição do postador exemplo. Oi lá! eu sou um verdadeiro entusiasta Na minha vida pessoal eu gastar tempo com a fotografia, escalada, mergulho e passeios de bicicleta da sujeira.
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